15 de março de 2009

A vida não é filme

Nãão, não é tema repetido!

Hoje vou colocar um trabalho pedido pelo meu professor de Jornalismo Básico I, Celso Unzelte. A proposta foi simples: fazer um texto sobre nós mesmos usando como base qualquer gênero de texto jornalístico (resenha, entrevista, notícia, etc). Fiz então este texto no estilo "máquina do tempo" com base em um assunto que já foi colocado aqui.
E eu não posso deixar de agradecer à Lu, que fez a ilustração pro trabalho. Muito obrigada, Lu!!!

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São Paulo, 11 de março de 2015.


Quantos adolescentes não se identificaram com personagens de filmes? Quantos não chegaram inclusive a ponto de imaginar que a própria vida é um filme? Melina Sternberg concluiu exatamente o contrário quando tinha 17 anos. “Além das coisas nunca se encaixarem perfeitamente como nos filmes, o roteiro da vida de cada um depende também do roteiro da vida de outras pessoas. Está tudo interligado e em constante movimento”. Para provar sua tese, produziu e dirigiu o longa que estréia essa semana no circuito paulistano de cinema independente.

“A vida não é filme” trata de uma sequência não cronológica de fatos sobre a história de Mel. Para que a veracidade das cenas fosse mantida, Melina, que não aparece nas telas, demorou três anos para escolher seu elenco a dedo. “E não tem essa de mocinho maravilhoso e vilã feiosa porque essas coisas só existem nos filmes”, ironiza a (de fato) autora da história, que disse não ter medo da exposição em excesso. “Hoje em dia, todos têm a sua vida publicada em blogs, no orkut, no youtube. Só estou mudando de mídia”.

O filme é dividido em blocos como capítulos de um livro, que passam por sua infância na Vila Mariana, a mudança para o Colégio Etapa, as relações com seus pais, irmãos e avós e o contato com o movimento juvenil judaico Chazit Hanoar, elementos de sua vida que moldaram a Melina que conhecemos hoje. A falta de uma linha cronológica deixa a dúvida sobre o que é o presente e o que são memórias. Para a própria diretora foi difícil organizar tudo no roteiro “principalmente do ponto de vista emocional. Além disso, nem todas as pessoas que participaram das cenas reais quiseram dar seus depoimentos”.

A trilha sonora, que inclui Vinícius de Moraes, Móveis Coloniais de Acaju, Skank e Yann Tiersen entre outros músicos e bandas selecionados de acordo com o gosto da diretora, conta com músicas interpretadas pela própria Melina e pelo Grupo Vocal do Colégio Etapa de 2008 (“Juntar a turma toda pra gravar foi realmente difícil!”). Também é possível conferir a canção “Amor Passageiro”, composta por ela em parceria com Nöa Capelas, jornalista da Revista Rolling Stone. Outros colegas de Mel também participaram da equipe do filme, como o cineasta Alcir Del’Guy, o psicólogo Felipe Farah, a escritora Tatiana Cukier e a designer gráfica Luiza Biasoto.

Entre típicas paisagens paulistanas como o Centro Cultural São Paulo e cenários mais íntimos como suas antigas residências, os erros, as peripécias, os amores platônicos e as alegrias de Melina diferenciam “A vida não é filme” de outros longas adolescentes. Sobre o final do filme, Mel afirma que “a maneira como as coisas não dão certo e como ocorrem sem planejamento deixa o clima constante de surpresa no ar que vai perseguir o desocupado espectador até os créditos de encerramento”. Nos resta aguardar essa mixagem de realidade e cinema.


“A vida não é filme”
Diretor: Melina Sternberg
Lançamento: 13 de março de 2015.

14 de março de 2009

Sem Consolação

Andar na Paulista naquele dia azul com nuvens brancas e brisa macia, ouvindo o barulho das folhas do parque Trianon e cantarolando "Chega de Saudade" poderia ser mais uma das infinitas cenas em que estava acompanhada por violão, amigos e carteira vazia. Violão talvez não, mas amigos e carteira vazia com certeza.

Mas dessa vez os pés que pisavam a nova calçada da Menina Paulista eram só dois e não no mínimo quatro, como antes. A canção não tinha mais várias vozes descoordenadas, era um só e envergonhado tom que não tinha como antes coragem pra ecoar do peito aberto para os pilares dos imensos edifícios.

Passa o Conjunto Nacional, passa o Center 3, passa o parque, passa o Masp, passa a feirinha, passa o prédio da Fiesp, passa a escadaria da Cásper, passa a Fnac, passa o Itaú, passa o Sesc. E durante o trajeto em linha reta só que não passou reto pela menina foi a saudade, essa menina mais danada que a Menina e que a menina.

10 de março de 2009

Fome de Leitura

Minha professora de Didática I, Denice Catani, da USP, nos pediu uma série de pequenos textos sobre nossa formação. De acordo com ela, quem quer interferir na formação alheia deve, no mínimo, refletir sobre a sua própria.

Com base no capítulo Memória de Livros do livro Um Brasileiro em Berlim , de João Ubaldo Ribeiro, o primeiro texto dessa série deveria retratar nossas relações com a leitura: o aprendizado da leitura, pessoas que nos incentivaram, o quanto gostamos de ler, etc.

O resultado está aí!
Divirtam-se! (E não reparem em repetições de palavras e outras cositas desse gênero. Aqui vale mais o conteúdo que a forma do texto).



Desde que me reconheço como um ser pensante, sei ler. Fui alfabetizada pelo método montessoriano aos quatro anos de idade. Mas antes de muitos livrinhos infantis recomendados pela escola e por minha mãe, eu já tinha uma profunda relação com a leitura: de acordo com mamãe, eu já devorava (literalmente) revistas aos oito meses de idade. Minha fome também refletiu na hora de pronunciar minha primeira palavra, “pão”.

Com um ano e oito meses entrei na Escola Irmã Catarina, na época localizada na rua Rodrigo Cláudio, na Aclimação. O método Montessori criou um ambiente propício para estímulos à leitura. Desde muito pequenos tínhamos contato com as letras do alfabeto e muito material era colocado à nossa disposição. Aos quatro anos, estava alfabetizada.

Uma série de livros infantis viviam entrando e saindo de casa. Minha mãe, que sempre leu muito, incentivava não só a leitura, como a cultura num todo. Ouvíamos e aprendíamos música, íamos ao teatro e ao cinema quase todo fim de semana (o passeio também incluía horas na parte infantil das livrarias dos shoppings). Por volta dos meus sete anos de idade, o gosto por teatro me levou a um passeio com a escola para o Sítio do Pica-Pau Amarelo. Ganhei também um livro da coleção.

Aos nove anos, ganhei de uma grande amiga da família o meu primeiro “grande” livro: Harry Potter e a Pedra Filosofal. Eu levava para a escola e lia durante todos os intervalos. O livro de cento e poucas páginas me acompanhou por um bom tempo. Eu marcava as páginas com bolinhas antes dos parágrafos que seriam começados.

Mas apesar de Potter ter me influenciado, a marca na minha história com a leitura veio definitivamente na quarta-série. Tia Cleide, professora incrível, nos passava diversos livros e, além disso, incentivava o debate sobre eles e nossa redação sobre os temas. A partir daí, passei não só a ler como a escrever ficção em poucos parágrafos. O gosto pela poesia também veio graças à Tia Cleide.

Enquanto isso, meu falecido Tio (-avô) Luigi insistia que eu lesse literatura internacional e seus grandes autores, mas não me dava muitos livros. Um dos poucos foi O Pequeno Príncipe. Quando o li pela primeira vez, não entendi nada. Outro livro que lembro ter me sido dado por meu tio foi O Continente 1, parte de O Tempo e o Vento, do Érico Veríssimo. O primeiro grande romance brasileiro que li (com 14 anos).

Durante todo o fundamental I tive “aulas de leitura” com a Tia Lia, atualmente aposentada. Ela nos passava exercícios com textos, basicamente de interpretação, e exigia também redações freqüentemente. Também pedia pesquisas (lembro-me bem de uma sobre o Pantanal). Talvez daí tenha saído o meu interesse pela área de comunicação e jornalismo.

No ginásio, minha professora de Português, Tia Rosa, pedia desde os livros da coleção Vagalume até versões adaptadas de Machado de Assis, Cervantes, entre outros. Li muitos livros do Pedro Bandeira e muitas crônicas. Tia Rosa me ensinou tudo que sei hoje sobre gramática. O gosto pela língua portuguesa e por como ela funcionava impulsionou minha leitura.

Desde então, gosto muito de ler. Infelizmente, o colegial me tirou tempo para as leituras extra-escolares e fiquei um bom período parada. (Para se ter uma idéia, neste janeiro de 2009 li 5 livros). Atualmente, estou com minhas atenções voltadas para os textos acadêmicos das duas graduações que estou fazendo (Pedagogia aqui na USP e Jornalismo na Cásper Líbero), mas espero sempre que puder continuar meus caminhos no campo da literatura.